sexta-feira, 12 de abril de 2013

IODO RADIOATIVO

Rev Assoc Med Bras 2006; 52(4): 187-201


O iodo radioativo tem sido, há mais de 50 anos, usado no

tratamento de adultos portadores de doença de Graves.

Porém, este uso tem sido evitado em crianças e adolescentes

por muitos endocrinologistas, com receio da possibilidade de

aparecimento de leucemia e câncer da tireóide. Alguns autores

detalharam os resultados do seguimento de 116 pacientes com

menos de 20 anos de idade (3,7 a 19,9 anos) e que foram

tratados com iodo radioativo.

No seguimento de cerca de 30 anos, nenhum caso de

leucemia ou de câncer da tireóide foi registrado. No início,

como o objetivo era alcançar um estado de eutireoidismo, as

doses do iodo utilizadas eram muito baixas tornando, muitas

vezes, necessário um novo tratamento. Posteriormente, foram

utilizadas doses maiores, o que levou todos os pacientes a um

quadro de hipotireoidismo, com exceção de dois deles. As

pacientes que engravidaram não apresentaram aumento do

número de anomalias congênitas nem abortos espontâneos,

comparados à população geral. Estes resultados levaram os

autores a concluir que o tratamento da doença de Graves com

radioiodo mostrou-se seguro e eficaz a longo prazo.

Comentário

O receio dos efeitos adversos do radioiodo em crianças com

doença de Graves faz com que muitos médicos prolonguem

durante anos o tratamento medicamentoso da doença. O trata-

mento clínico pode mostrar-se desapontador, não levando à

remissão da doença, ao lado do considerável número de efeitos

colaterais provocados pelas drogas antitireoideanas. O tratamento

cirúrgico, opção considerada boa quando nas mãos de um cirur-

gião hábil, tem um custo maior (cirurgia, cicatriz). Consideramos

que um tratamento medicamentoso deve ser tentado, pois o

quadro pode mostrar remissão em um ou dois anos. Se isso não

ocorrer o radioiodo é uma boa opção pela experiência já registrada

em um tratamento que tem uma história de mais de 50 anos.


Uma pesquisa científica sempre procura resposta a uma

indagação. Em medicina, a resposta obtida para esta indagação

tem que ser reprodutível para ser crível. Somente após diversos

investigadores, em diferentes lugares, realizarem uma mesma

pesquisa, pode-se fazer uma generalização da resposta. Aí,

então, as conclusões são postas em prática.

Mas um problema pouco discutido pela comunidade cien-

tífica envolve certas perguntas que são repetidas inúmeras

vezes, mesmo quando a resposta já é conhecida ou deveria sê-

lo

1

. Esta repetição significa, no mínimo, uma perda de dinheiro

e de tempo. Pior do que isso, tais repetições podem ser

antiéticas, pois podem custar vidas. Alguns estudos recentes

mostram exemplos marcantes da repetição supérflua de inves-

tigações e suas conseqüências.

Recente artigo de autores canadenses faz uma apreciação

que abrange 18 anos de pesquisa sobre a aprotinina, um

fármaco usado para reduzir o sangramento durante cirurgias

cardíacas

2

. Os autores levantaram 64 artigos randomizados,

publicados a partir de 1987, distribuídos por 12 países.

Dois terços deste total eram variações sobre uma mesma

questão. E quase todos indicaram que os pacientes que recebiam

aprotinina sangraram menos. Esta vantagem se tornou evidente

em junho de 1992, após o 12º estudo. Os autores desta revisão

afirmam que os pesquisadores não teriam justificativa para fazer

estudos posteriores se considerassem toda esta produção

científica anterior, particularmente os estudos de revisão de tipo

metaanálise. Eles deduzem, portanto, que os autores não

fizeram uma revisão cuidadosa de tudo que fora publicado

previamente. Nos 64 artigos, os pacientes foram distribuídos de

forma randômica para receber aprotinina ou placebo. Em geral,

não houve diferença na mortalidade entre os dois grupos, mas

os que receberam o fármaco sangraram menos.

Revisão sistemática conduzida por Gilbert et al. destaca o

potencial aumento da mortalidade devido à repetição indevida

das pesquisas, ao abordar o problema da morte súbita na

infância, ou síndrome da morte no berço, que atinge crianças

com até um ano de idade e que vêm a falecer sem uma causa

demonstrável

3

.

No passado, com receio de vômito seguido de aspiração, as

mães eram aconselhadas pelos pediatras a colocar os bebês

pequenos em decúbito prono durante o sono. Esta afirmação

não possuía uma base científica. Diversos estudos comprova-

ram que este decúbito aumentava sete vezes o risco de morte

súbita. Uma compilação dos estudos feitos até 1970 teria

tornado evidente a enorme diferença de riscos, mas os estudos

observacionais continuaram a ser feitos até o início da década de

90. Nesta década, foram encetadas campanhas oficiais, em

alguns paises desenvolvidos, a favor da indicação da posição

supina. Entre 1970 e os anos 90, milhares de crianças teriam

sido poupadas da morte no berço se houvessem sido correta-

mente considerados corretamente os estudos sobre o decúbito

para o sono do recém-nascido e pequeno lactente

3

.